São Paulo é vista por muitos como um anti-cartão postal. Feia, insegura, caótica, confusa, cinza. Alguns dizem que se quer existe amor por aqui. É uma cidade impossível de ser representada ou ilustrada.
A função de um cartão postal é sintetizar uma localidade através de uma imagem, geralmente por meio de visões aéreas e de grandes paisagens para, consequentemente, atrair turistas pelas suas belezas e qualidades. A grande questão é que esse modelo de imagem não serve para São Paulo. Chega a ser pretensioso sintetizar algo tão grande e tão diverso em um momento estático e aéreo, porque, de fato, se vista de apenas de cima, São Paulo é essa selva de pedra bruta.
A verdadeira beleza de São Paulo só pode ser vista de dentro. Ela acontece nos encontros, nas trocas, nos relacionamentos, nas experiências, no olhar de baixo para cima. Por isso, o projeto ousa, por meio dos postais, causar disrupção ao seu próprio conceito, e, enfim, retratar não o que é São Paulo, mas sim quem ela é.
O projeto se desenvolve através de dois caminhos principais, o primeiro se refere às escolhas para produção das imagens. Como apresentar algo tão múltiplo? Qual linguagem e identidade usar? Como cobrir tudo que essa cidade representa? A resposta para todas essas perguntas acabou sendo, mesmo que dura, muito simples: A minha visão individual nunca será suficiente. Em paralelo, o segundo caminho trilhado nesse processo se refere ao desenvolvimento do meu relacionamento com a cidade: através do exercício de olhar mais profundamente para ela, compreendi que eu enxergo na cidade, a beleza que projeto nela. Não uma beleza estética, mas sim uma beleza relacional.
Esses dois caminhos se cruzaram, justamente no fazer. Entendi que a função deste projeto é produzir imagens que deem espaço para o sentir, e que passem a mensagem de que São Paulo é para ser vivida.
Como é o seu relacionamento com São Paulo? Eu não pretendo ser amplo ou generalizador, como os cartões postais costumam ser, mas quero mostrar como é a minha experiência de viver aqui nesta cidade. Mas, ao mesmo tempo, entendi que era necessário trazer olhares diferentes e outros relatos sobre esse relacionamento. Por isso pedi que inúmeros moradores de SP descrevessem como eles se relacionam com a cidade. Essas frases e textos estão registradas atrás de cada um dos cartões, como recados que você manda para amigos distantes. A intenção era agregar as experiências das pessoas à minha, e assim criar um retrato mais profundo da cidade.
Como dito anteriormente, eu trato São Paulo como alguém. Por isso esse projeto se trata de um ensaio autoral de fotografia de rua e, sobretudo, de retratos da cidade. SP está cheia de problemas, desigualdades e dificuldades. Mas também é cheia de personalidade, de cultura, de pessoas reais, de vidas, de histórias. É uma cidade que não está lá para ser consumida ou aproveitada, mas sim para ser vivida, para se desenvolver junto com ela.
bell hooks, autora do livro “tudo sobre o amor” diz que Amar está na ação de desenvolver espiritualmente a si mesmo e ao outro. São Paulo permite que tenhamos essa relação com ela, quem quer que você seja.